terça-feira, 20 de março de 2012

Heloisa Tolipan entrevista Thiago Pethit para o Jornal do Brasil


Heloisa Tolipan entrevista Thiago Pethit para o Jornal do Brasil. Confira:


"'Darling' da nova geração de cantores, Thiago Pethit  tem, cada vez mais, conquistado público nos quatro cantos do país. Só que ele, além de cantar, tem muito o que falar. Engatamos um papo com o paulistano durante a semana de moda batizada ParkFashion Connection, em Brasília, nova plataforma de se pensar a moda no Centro-Oeste de uma forma plural, global e multiconectada com as redes - virtuais e reais - que nos envolvem cotidianamente."
Heloisa Tolipan - Como você vê o cenário atual da música brasileira? Estamos avançando em termos de respeito e melhores remunerações para novos talentos?
Thiago Pethit - Vejo um cenário muito rico em diversidade, cheio de potencial, mas ainda com pouca estrutura. Sinto que estamos indo no caminho certo, rumo a um grande alvo, embora o alvo cada vez pareça mais e mais distante conforme vamos caminhando. É um momento bastante complicado, é tudo muito novo.  Parece que alcançamos algum respeito e algumaremuneração, mas, por enquanto, é só. E por ser tudo tão novo, é difícil saber se já estamos até onde dá para chegar. Eu sou sempre otimista com o novo e com o que está por vir, então, acho que ainda tem muito chão pela frente. No bom e no mau sentido.
Heloisa Tolipan - Como conquistar um público hoje em dia com tantos fenômenos que nascem e morrem de um dia para o outro?
Thiago Pethit - Eis uma pergunta para qual eu ainda não descobri a resposta e que eu adoraria já ter descoberto. Por enquanto, em primeiro lugar, me parece que é mais importante ter um trabalho sólido e que agrade ao próprio artista antes de agradar a qualquer pessoa e, depois, ter consciência de que é assim que as coisas funcionam. Talvez essa consciência possa ajudar tanto a lidar com esses arroubos efêmeros quanto a jogar a favor deles para conquistar um público fiel e, quem sabe, ampliá-lo.
Heloisa Tolipan - Em que momento a internet pode se tornar um fator que joga contra a carreira de um cantor?
Thiago Pethit - A internet mudou completamente a ideia de informação e de tempo no nosso cotidiano. Tudo passou a ser absorvido de forma muito rápida e ‘viral’ e, no meio disso, creio que um cantor possa se perder entre tanta coisa. Tanta informação, tanta novidade. Mas isso não me preocupa. Me parece mais preocupante a maneira como podemos perder talentos e novidades relevantes que não tiveram tempo de se desenvolver pela sobreposição de outros. Por exemplo, se pensarmos que, nos anos 60, o surgimento dos Beatles e o Iê-iê-iê era um ‘escândalo’ que só seria absorvido mundialmente com meses ou anos de assimilação cultural, com a agilidade que lidamos com cada novidade, a maneira como assimilamos o que era desconhecido até ontem (principalmente em termos de novidades musicais) faz com que a proliferação de um estilo, de uma arte ou de um tipo de música seja imenso. Cópias, influencias, melhorias... Se os Beatles tivessem surgido agora, talvez fossem um sucesso estrondoso de uma semana e, na semana seguinte, teríamos quatro bandas que pegaram pronta essa informação musical nova e já recriaram e melhoraram. Por isso vão ser o novo sucesso desta semana e por aí vai. Não dá tempo de entender a proposta completa de um artista, pois, na semana seguinte, a proposta dele já ganhou outro tom vindo de outro artista.
Heloisa Tolipan - O que você acha da história do ECAD cobrar pelo direito autoral pela divulgação de vídeos do Youtube em blogs e sites?
Thiago Pethit- Acho completamente absurdo e abusivo. As questões dos direitos autorais e do trabalho do ECAD precisam, urgentemente, ser revistas e discutidas. Estes temas não podem ser tratados como estão sendo. É uma informação duvidosa atrás de outra, que se torna um escândalo e acaba sendo abafado em algum momento. 
Heloisa Tolipan - Você sobrevive totalmente da sua música? O que o faz seguir em frente ou pensar em recuar? Quem é Thiago Pethit além de músico?
Thiago Pethit - Eu tenho bastante orgulho em dizer que, hoje em dia, minha música paga a minha música. Ela não paga a minha vida pessoal, pois ainda precisa pagar a si mesma. Sem incentivos ou apoios do governo nem particulares. Sempre foi assim para mim, mas, agora, ao menos, as condições melhoraram. É uma carreira muito difícil em diversos aspectos e não por causa da grana. A ideia de recuar é constante. Ano passado, vivi um período bastante difícil. Uma espécie de ressaca em forma de depressão. Uma ressaca destes últimos quatro anos trabalhando intensamente nesta carreira. E, por isso, pensei mais seriamente sobre abandonar tudo o que eu tinha construído até aqui. Mas o que me fez seguir em frente foi perceber durante esta depressão que, o único caminho de saída daquele estado, seria através da própria música. Se eu não cantar, não compuser e não produzir música, eu não tenho como sair disso. Eu sou nada. A música é a minha doença e a minha cura ao mesmo tempo. O que me faz seguir em frente é a necessidade vital de fazer e viver de música. É mais forte que eu.

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